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Ministério
Introdução ao assunto
Introdução
Existe unanimidade entre os estudiosos de Marinho Lutero no
sentido de que ele é um teólogo a quem apenas se faz jus, quando se avalia
cuidadosamente o seu contexto histórico e o posicionamento dos seus interlocutores
ou adversários. Exemplo dos mais contundentes para tal é a sua visão do
ministério eclesiástico e do sacerdócio dos crentes, a sua concepção a respeito
da ordenação ao ministério e do serviço dos bispos.[1]
Para Lutero, a questão do ministério nunca foi um ponto
central, embora ganhasse, no decorrer de sua reflexão teológica, em meio aos sempre
novos desdobramentos práticos e comunitários da Reforma, algum peso e, no fim
da sua vida, até certa sistematização. Jamais aboliu o ministério, todavia
criticou violentamente o seu ser e fazer vigentes e contribuiu, definitivamente,
para a recuperação do seu caráter e da sua função bíblicos. Preferiu falar em
ordenação ao ministério, em vez de consagração. Em época nenhuma, pôs em
dúvida, por princípio, o episcopado. Diferenciou, no entanto, de forma
insofismável entre este e o papado, o qual não só considerou supérfluo, mas
pernicioso. Em qualquer abordagem concernente ao ministério, Lutero aplicou o
seu critério ubíquo: a proclamação da Palavra de Deus. O mesmo sucede tanto no
anunciar da Lei e do Evangelho quanto no ministrar dos sacramentos. Lutero
destacou sobejamente, como tarefa única do ministério, estar a serviço da
Palavra de Deus.
Os diferentes estágios no testemunho de Lutero a respeito do ministério
Quanto ao testemunho de Lutero a respeito do ministério,
podem-se distinguir quatro etapas[2].
É temerário demarcá-las rigorosamente. A distinção ajuda apenas para ressaltar
as ênfases exigidas pelas novas situações que se vão impondo.
A primeira etapa abrange os anos de 1517 a 1520: Lutero
desenvolve a sua compreensão do sacerdócio dos crentes e batizados em oposição
crescente à hierarquia dominante que resiste ao Evangelho.
A segunda, os anos de 1521 a 1523: Lutero insiste na
importância de um ministério organizado e ordenado, em resposta crítica radical
à perseguição do Evangelho pelas autoridades de Roma e seus seguidores e,
concomitantemente, em reação ao individualismo e espiritualismo dos
entusiastas.
A terceira, abrange os anos de 1524 a 1529: Lutero, em
confrontação aberta com os entusiastas, desdobra como se interligam a palavra
externa da pregação e a distribuição comunitária dos sacramentos com a palavra
e ação internas do Espírito Santo. Interligação que, para o pregador de
Wittenberg, acontece também por meio da atuação do ministério eclesiástico
evangélico.
A quarta etapa ganha ímpeto após a Dieta de Augsburgo
(1530): Lutero perde a esperança de que Roma ainda venha abraçar a Reforma.
Razão pela qual caminha decididamente rumo à renovação eclesiástica, a partir
do Evangelho redescoberto, nos territórios que aderiram à Reforma. Aí uma
ponderação meticulosa referente ao ministério se torna imperativa devido à
necessidade de novos pregadores e à questão da sua ordenação. Pois nenhum bispo
— era ele que ordenava — tinha acompanhado a Reforma. E, com a consolidação das
igrejas territoriais evangélicas, os padres e monges que, logo depois de 1517,
tinham se engajado, em grande número, pelo enraizamento da Reforma, não eram
mais suficientes, além de que muitos deles, entrementes, tinham falecido ou
desistido do ministério devido a outros motivos. Não por último, Lutero percebe
que é impossível continuar com medidas e leis de emergência, que agora lhe
carecem de embasamento teológico.
[1]
A controvérsia acalorada ao redor da percepção do ministério em Lutero cooperou
bastante com a formação daquela opinião generalizada. A polêmica acerca da
interpretação adequada do testemunho do reformador referente ao ministério,
começou no século passado e parece não ter terminado. Resumidamente, trata-se
de duas posições que se excluem. Uma corrente afirma que Lutero teria derivado
o ministério do sacerdócio dos crentes. O protagonista desta visão é J. W. F. Höfling,
falecido em 1853. Cf. M. KIESSIG, Johann Wilhelm Friedrich Höfling. Leben und Werk.
Gütersloh : Gerd Mohn, 1991, p. 138ss. Outra corrente enfatiza que Lutero teria
ressaltado a independência do ministério do sacerdócio dos crentes, sim, o
confronto entre ambos. O paladino principal aí é A. F. Chr. Vilmar, falecido em
1868. Cf. F. W. KANTZENBACH, Gestalten und Typen des Neuluthertums, Gütersloh :
Gerd Mohn, 1968, p. 99ss. Trabalhos mais recentes oferecem enfoques
diferenciados da mesma problemática. R ex., H. LIEB ERG, Amt und Ordination bei
Luther und Melanchthon. Göttingen : Vandenhoeck & Ruprecht, 1962, p.
235ss., fala em “bipolaridade na doutrina de Lutero sobre o ministério”, ou
seja: uma vez o ministério é derivado do sacerdócio dos crentes, ao que
corresponde a vocação pela comunidade e, outra vez, o ministério é instituído
por Jesus Cristo, ao que corresponde a ordenação como transmissão do
ministério. De resto, o pesquisador católico romano P. MANNS, Vater im Glauben.
Studien zur Theologie Martin Luthers, Wiesbaden/Stuttgart : Steiner, 1988, p.
115ss., mostra que Lutero jamais consentiu com que adeptos da Reforma
ministrassem a Ceia do Senhor em casas particulares, também não no início
impetuoso da eclosão do movimento reformatório e nem mesmo em diáspora extrema
(cf., p. ex., abaixo, p. 85,3-26). Sempre teria ligado o ato de ministrar o
Sacramento do Altar à comunidade e ao ministério.
[2]
Cf. B. LOHSE, Luthers Theologie, Göttingen : Vandenhoeck & Ruprecht, 1995,
p. 307.
Obras Selecionadas de
Lutero, v. 7, pp 25 a 36
Este livro completo e todos os outros da coleção, podem ser comprados na Editora Concórdia (https://www.editoraconcordia.com.br)
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